A importância do acolhimento médico no tratamento da obesidade
Em 2019, 20,3% da população adulta do Brasil estava com obesidade.
Estabilizantes, edulcorantes, acidulantes. Você sabe o que são essas
substâncias? Mesmo que a resposta seja negativa, você certamente já as
ingeriu alguma vez na vida: são alguns dos aditivos químicos
adicionados a alimentos ultraprocessados. Segundo um estudo realizado
no Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), quatro em cada cinco alimentos vendidos nos supermercados
brasileiros possuem pelo menos um aditivo entre seus
ingredientes¹.
Ainda que os fabricantes indiquem a
presença de aditivos nos rótulos dos alimentos, é muito difícil para
os consumidores saberem o quanto estão ingerindo. O consumo frequente
está associado a uma série de doenças, como diabetes tipo 2,
hipertensão arterial, obesidade e câncer²-³.
Os aditivos são qualquer ingrediente adicionado a um produto sem o
propósito de nutrir. Suas funções são: estender a validade dos
alimentos, substituir ingredientes naturais e adicionar cor, sabor,
aroma e textura para torná-los gostosos e atraentes⁴.
No
estudo da UERJ, os pesquisadores chegaram a encontrar 35 tipos
diferentes de aditivos em apenas um item de panificação¹.
Os alimentos nos quais foram encontrados os maiores percentuais de
aditivos químicos, em relação ao total de ingredientes, foram: bebidas
com sabor de frutas (79,7%); refrigerantes (74,5%); outras bebidas,
como aquelas à base de soja e chás prontos para consumo (57,3%);
produtos lácteos não adoçados (51,1%); néctares (49,7%); e produtos
lácteos adoçados (45,6%)¹.
Uma maneira fácil de
identificar se um alimento é ultraprocessado e, consequentemente,
contém aditivos, é checar a lista de ingredientes. A presença de
muitos componentes (geralmente cinco ou mais), especialmente aqueles
com nomes não familiares, indica que o produto pertence à categoria de
alimentos ultraprocessados. Alguns exemplos desses ingredientes
incluem gordura vegetal hidrogenada, xarope de frutose, espessantes,
emulsificantes, corantes, aromatizantes e realçadores de sabor⁴.
Uma medida que tem facilitado a identificação desses produtos é
o novo padrão de rotulagem de alimentos e bebidas industrializados,
aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que
entrou em vigor em outubro de 2022⁵.
As embalagens devem
apresentar um selo frontal com um símbolo de lupa, indicando se o
alimento possui altos teores de açúcar, gordura e sódio. O objetivo é
facilitar a compreensão do consumidor sobre a composição de
ingredientes prejudiciais à saúde e auxiliá-lo a fazer escolhas
alimentares mais conscientes⁵.
Uma alimentação rica em alimentos ultraprocessados é muito
prejudicial à saúde. Além de serem nutricionalmente desbalanceados, ou
seja, pobres em fibras, vitaminas e minerais, os aditivos químicos
presentes nestes alimentos podem desregular a flora intestinal e
aumentar o risco de distúrbios metabólicos e doenças inflamatórias,
como a obesidade⁶.
Segundo uma pesquisa publicada em
2020, pessoas que consomem ultraprocessados com frequência possuem um
risco 26% maior de desenvolver obesidade⁷. Outra pesquisa, também de
2020, concluiu que o consumo excessivo desses alimentos está associado
ao sobrepeso e obesidade (39%), circunferência maior da cintura (39%),
níveis baixos de colesterol “bom”, o HDL (102%), e síndrome metabólica
(79%)².
Além disso, os aditivos químicos presentes nestes
alimentos podem gerar efeitos tóxicos e contribuir para o
desenvolvimento de alguns tipos de câncer⁸.
Consumir alimentos ultraprocessados não é proibido: o importante é
ter bom senso e equilíbrio. De acordo com o Guia Alimentar para a
População Brasileira, do Ministério da Saúde, os alimentos in natura
ou minimamente processados são a base de uma alimentação
nutricionalmente balanceada⁴.
Na dúvida, pense na regra
“descasque mais e desembale menos”. Não troque a comida caseira (como
arroz, feijão, sopas, saladas, refogados de legumes e verduras,
macarronada etc.) por produtos que dispensam preparação culinária
(como sopa de pacote, macarrão instantâneo, molhos industrializados,
misturas para bolos, entre outros)⁴.
Nem sempre é fácil
fazer escolhas alimentares adequadas sem ajuda profissional. Para
isso, é importante contar com um nutricionista sempre que possível.
Esse profissional irá auxiliar na elaboração de um plano alimentar
individualizado, levando em consideração preferências alimentares,
aspectos financeiros e estilo de vida, com foco em melhorar a saúde e
garantir qualidade de vida.
Referências:
1. Montera V. Caracterização de aditivos alimentares em rótulos
de alimentos e bebidas comercializados em supermercados brasileiros.
Rio de Janeiro. Tese (Doutorado) – Instituto de Nutrição da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); 2021. 2. Pagliai G,
Dinu M et al. Consumption of ultra-processed foods and health status:
a systematic review and meta-analysis. Br J Nutr. 2021 Feb
14;125(3):308-318. 3. Leijoto KMT, Custódio LM et al. Análise de
rótulos de alimentos ultraprocessados, congelados e prontos para o
consumo: composição nutricional e presença de aditivos alimentares.
Rev Bras Obes Nutr Emagr. 2022;16(104):918-938. 4. Ministério da
Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. Disponível em
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf.
Acesso em março de 2024. 5. Instrução Normativa-In nº 75, de 8 de
outubro de 2020. Estabelece os requisitos técnicos para declaração da
rotulagem nutricional nos alimentos embalados. Diário Oficial da
União. 9 out 2020. Disponível em
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-in-n-75-de-8-de-
outubro-de-2020-282071143 . Acesso em março de 2024. 6. Chassaing B,
Koren O et al. Dietary emulsifiers impact the mouse gut microbiota
promoting colitis and metabolic syndrome. Nature. 2015 Mar
5;519(7541):92-6. 7. Askari M, Heshmati J et al. Ultra-processed food
and the risk of overweight and obesity: a systematic review and
meta-analysis of observational studies. Int JObes (Lond). 2020
Oct;44(10):2080-2091. 8. Chang Kiara, Gunter MJ et al. Ultra-processed
food consumption, cancer risk and cancer mortality: a large-scale
prospective analysis within the UK Biobank. eClinicalMedicine 2023 Jan 31;56:101840.
BR24OB00099 - Maio/2024 - Material destinado ao público em geral.