Você está em uma jornada de emagrecimento, conseguiu perder peso e
sente muita animação. Algum tempo depois, percebe que recuperou os
quilos que perdeu ou que não consegue mais avançar.
Publicado em: 24 de fevereiro
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Você está em uma jornada de emagrecimento, conseguiu perder peso e
sente muita animação. Algum tempo depois, percebe que recuperou os
quilos que perdeu ou que não consegue mais avançar. Por que manter o
peso perdido é tão difícil? Antes de se culpar, saiba que você não
está sozinho e que existem muitas explicações para isso.³
Apenas uma em cada cinco pessoas consegue eliminar pelo menos 5% do
peso corporal e manter o resultado por dois anos¹. Isso acontece por
vários fatores. O principal deles é que, para o nosso cérebro, perder
peso é algo ruim do ponto de vista evolutivo. Para ele, gordura é
sinônimo de energia - portanto, eliminá-la significa reduzir esse
estoque, necessário para garantir a nossa sobrevivência².
Todas as vezes que perdemos peso, nosso cérebro aciona mecanismos
para tentar conter essa perda de gordura e recuperar os quilos que
foram eliminados. Um dos mecanismos é a redução da taxa metabólica
basal, que é a quantidade de energia necessária para a manutenção das
funções vitais do organismo durante 24 horas³.
Traduzindo, o metabolismo passa a economizar energia para conseguir
desempenhar as mesmas tarefas de antes, enquanto os hormônios
responsáveis pela fome e pela saciedade se desequilibram. A grelina,
conhecida como o “hormônio da fome”, por exemplo, aumenta, enquanto a
leptina, que é o “hormônio da saciedade”, diminui³.
Ou seja, você passa a sentir mais fome e a queimar menos calorias,
ainda que seguindo o plano alimentar e a rotina de exercícios de
sempre. É o corpo em alerta, lutando para recuperar o peso que foi
previamente eliminado³.
Além do componente fisiológico, há outros desafios para a manutenção
da perda de peso. É comum desanimar porque a motivação inicial
diminui, já que o projeto parece não ter fim ou porque você já não vê
tantos benefícios como no começo⁴.
Quando o emagrecimento acontece sem planejamento e sem o
acompanhamento adequado, seguindo dietas muito restritivas e
exercícios pouco estimulantes ou cansativos demais, também é bastante
difícil manter a jornada por muito tempo⁴.
Problemas do efeito sanfona
Esse ciclo de engordar e emagrecer repetidas vezes, o chamado “efeito
sanfona”, além de desmotivar quem está com excesso de peso, também
tem efeitos negativos no organismo – que, inclusive, podem ser tão ou
mais graves do que se manter com obesidade pela vida toda⁵.
Um estudo conduzido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), em 2014, constatou que o reganho de peso costuma ser maior
depois de cada fase de emagrecimento. E quem vive essa situação pode
ter sérios danos no organismo, como gordura no fígado, a
chamada esteatose hepática, uma doença que pode evoluir para cirrose e
até câncer de fígado⁵.
Outro estudo, publicado no Journal of Clinical Endocrinology e
Metabolism em 2018, mostrou que a flutuação de peso está associada a
uma maior mortalidade. O efeito sanfona tende a aumentar a atividade
inflamatória em todo o organismo e pode desencadear o surgimento de
doenças, como as cardiovasculares e o diabetes⁶.
Como manter a motivação?
Já sabemos que o nosso cérebro atua como um sabotador do
emagrecimento e que há muitos fatores que desestimulam a perda de
peso. O que fazer então?
Em princípio, é essencial entender que cada pessoa é única e que
nenhum tratamento será igual ao outro. Portanto, dietas
da moda e produtos dito milagrosos precisam dar lugar a metas
realistas e acompanhamento individualizado e multidisciplinar, que
envolva médico, nutricionista, educador físico, fisioterapeuta e
psicólogo⁷.
O melhor peso para uma pessoa é aquele que ela pode alcançar
enquanto vive um estilo de vida saudável, com foco em conquistas
progressivas de saúde. Isso requer dedicação constante pela vida toda.
Um estudo do National Weight Control Registry, de 2014, mostra que é
possível, sim, eliminar muitos quilos e ser bem sucedido na manutenção
do novo peso. Os especialistas analisaram o estilo de vida de pessoas
que tinham eliminado um percentual significativo do seu peso, por dez
anos, nos Estados Unidos. Eles constataram que mais de 87% dos
participantes mantiveram ao menos 10% de perda de peso ao longo deste
período, mantendo uma rotina que envolvia atividade física e
alimentação de baixo teor calórico e de gordura⁸.
Além de mudança de hábitos, como alimentar-se de forma balanceada e
praticar atividade física com frequência, o médico pode indicar o uso
de medicamentos e, em alguns casos, até mesmo a cirurgia bariátrica.
Por isso, a ajuda de profissionais da saúde é essencial na jornada da
perda de peso.
Referências: 1. Wing RR, Phelan S. Long-term weight loss
maintenance. Am J Clin Nutr. 2005 Jul;82(1
Suppl):222S-225S. 2. Ferraro ZM, Patterson S et at. Unhealthy
Weight Control Practices: Culprits and Clinical Recommendations. Clin
Med Insights Endocrinol Diabetes. 2015 Feb
17;8:7-11. 3. Blomain ES, Dirhan DA et al. Mechanisms of weight
regain following weight loss. ISRN Obes. 2013 Apr
16;2013:210524. 4. Mauro M, Taylor V et al. Barriers to obesity
treatment. Eur J Intern Med. 2008
May;19(3):173-80. 5. Barbosa-da-Silva S, Aguila MB. Estudo
experimental da ciclagem da massa corporal ou efeito sanfona. Rio de
Janeiro. Tese de Doutorado [Pós-graduação em Biologia Humana e
Experimental] – UERJ; 2012. 6. Oh TJ, Moon JH et al.
Body-weight fluctuation and incident diabetes mellitus, cardiovascular
disease, and mortality: A 16-Year prospective cohort study. J Clin
Endocrinol Metab. 2019 Mar 1;104(3)639-646. 7. Mendes AA, Ieker
ASD et al. Multidisciplinary programs for obesity treatment in Brazil:
A systematic review. Rev. Nutr. 2016 Nov-Dec;
29(6):867-884. 8. Graham J, Bond D et al. Weight-Loss
Maintenance for 10 Years in the National Weight Control Registry. Am J
Prev Med. 2014 Jan; 46(1):17-23.
BR23OB00040 – Maio/2023
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