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Por que sentimos fome?

fome é uma sensação fisiológica que nos leva a procurar alimento para satisfazer a necessidade diária de nutrientes e manter nosso organismo funcionando¹. Mas o que faz algumas pessoas sentiram mais fome do que outras? Para saber por que isso acontece é necessário entender como funcionam os mecanismos da fome e da saciedade.

Publicado em: 24 de fevereiro

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fome é uma sensação fisiológica que nos leva a procurar alimento para satisfazer a necessidade diária de nutrientes e manter nosso organismo funcionando¹. Mas o que faz algumas pessoas sentiram mais fome do que outras? Para saber por que isso acontece é necessário entender como funcionam os mecanismos da fome e da saciedade.

Quando uma pessoa está há algum tempo sem comer, os níveis de glicose no sangue diminuem e um hormônio chamado grelina é liberado pelo estômago¹-². Conhecida como “hormônio da fome”, a grelina envia mensagens para o cérebro, gerando estímulos que preparam o corpo para receber o alimento, como aumento do suco gástrico e dos movimentos gastrointestinais. Nessa hora, costumamos ouvir ruídos no estômago, ficamos mal-humorados e até com dor de cabeça¹.

Conforme uma pessoa se alimenta, o mecanismo da saciedade começa a entrar em ação. As células de gordura do organismo produzem leptina, o “hormônio da saciedade”. Ele envia sinais ao cérebro que inibem a fome e estimulam o gasto de energia. Quanto mais gordura corporal uma pessoa possui, mais leptina é liberada, o que ajuda a controlar o excesso de peso²-³.

Era de se esperar, portanto, que pessoas com obesidade sentissem menos fome, já que produzem uma grande quantidade de leptina. Entretanto, não é o que acontece: a condição promove uma série de processos celulares que atenuam a sinalização da leptina, fazendo com que pessoas com excesso de peso se tornem resistentes à ação desse hormônio²-³.

A genética pode ser um dos motivos. Segundo um estudo de 2019 feito na Rockefeller relacionados a um mecanismo genético que leva a uma baixa produção de leptina⁴.

Além da grelina e da leptina, outros hormônios participam do mecanismo da fome e da saciedade, informando ao cérebro sobre a quantidade disponível de nutrientes no corpo, como: colecistocinina (CCK), que aumenta os sinais de saciedade e torna mais lento o processo de digestão; neuropeptídeo Y, que age como estimulante da fome; peptídeo YY (PYY) e o peptídeo semelhante ao glucagon–1 (GLP-1), que sinalizam o momento de parar de comer quando uma pessoa está saciada⁵-⁶.

Fatores que influenciam o apetite

Alimentação – O que uma pessoa come influencia o seu apetite. Um estudo norteamericano, publicado este ano, demonstrou que comer mais em uma refeição diminui a fome nas seguintes. Porém, se esta refeição for ingerida rapidamente, tiver alta quantidade de calorias e for composta de alimentos ricos em gordura, sódio, açúcar e carboidratos, ocorrerá uma disfunção no mecanismo de saciedade e o efeito esperado de moderação na refeição seguinte não acontece⁷.

Além disso, consumir alimentos ultraprocessados leva a um esvaziamento gástrico mais rápido quando comparados a refeições nutricionalmente completas, o que pode levar ao excesso de peso. De acordo com uma pesquisa de 2019 realizada pelo National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, os participantes consumiram calorias 50% mais rápido quando comiam alimentos ultraprocessados, pois esses alimentos são mais fáceis de mastigar e são mais calóricos⁸.

Outra desvantagem em consumir alimentos ricos em proteína, açúcar e gordura saturada é que eles alteram a flora intestinal, diminuindo a produção de substâncias benéficas para o organismo e causando aumento do apetite⁹.

Mastigação – A digestão inicia-se já na mastigação. Durante o processo de mastigação o corpo vai recebendo avisos e se preparando quimicamente para processar os nutrientes. Comer devagar, mastigando bem os alimentos, estimula a saciedade e leva uma pessoa a ingerir uma quantidade menor de alimento¹⁰.

Atividade física – Ao contrário do que se imagina, o apetite não aumenta após a prática de atividade física. Pelo contrário: um estudo da Universidade Drexel, dos Estados Unidos, feito em 2020, apontou que o exercício protege contra excessos na alimentação. Quando os participantes não se exercitavam, o risco de comer demais nas horas seguintes era de 12%. Segundo a pesquisa, para cada 10 minutos adicionais de exercício que um participante realizou, a probabilidade de comer demais diminuiu 1% nas horas seguintes à atividade física¹¹.

Outros estudos mostram que se exercitar diariamente auxilia na diminuição da produção de grelina e no aumento da liberação de leptina, contribuindo para a sensação de saciedade¹²-¹³.

Sono – A falta de sono afeta o cortisol. Esse hormônio está diretamente ligado ao açúcar no sangue e quando há um desequilíbrio dele no organismo, pode haver um aumento no cansaço e no desejo por açúcar. Dormir pouco tende ainda a desregular os níveis de grelina e leptina. Uma noite de sono insuficiente pode levar a pessoa a comer mais, principalmente se ela estiver cansada ou estressada¹⁴.

Medicamentos – Alguns medicamentos atuam como reguladores de apetite, podendo auxiliar pessoas com obesidade em sua jornada da perda de peso. O seu uso, no entanto, deve ser feito com prescrição médica após uma avaliação.

Fome ou vontade de comer?

Muitas vezes é difícil diferenciar a fome da vontade de comer. Enquanto a fome é uma sensação fisiológica, a vontade de comer pode estar associada a fatores externos, como os emocionais. O desequilíbrio emocional pode gerar uma queda no nível de serotonina, substância responsável pela sensação de bem-estar¹⁵.

Assim, a comida acaba sendo usada como um mecanismo de compensação para o alívio do estresse e de sentimentos negativos, o que pode gerar vícios e compulsão alimentar¹⁵. Estímulos externos, como ver, cheirar ou lembrar de uma comida gostosa, e ainda interações sociais que envolvam muita comida, também nos fazem ter mais vontade de comer.

O prazer e a experiência são elementos importantes na alimentação. Comer o que se tem vontade, mesmo sem fome, não deve estar associado a um sentimento de culpa. Mas é preciso ter atenção aos excessos e procurar ajuda de profissionais da saúde quando necessário para que eles auxiliem na construção de um relacionamento mais saudável com a comida.

Saiba mais:

Obesidade e hormônios qual é a relação

O que está por trás da alimentação emocional?

Referências:
1. 
Davis J. Hunger, ghrelin and the gut. Brain Res. 2018 Aug 15;1693(Pt B):154- 158. 2. Amin T, Mercer JG. Hunger and satiety mechanisms and their potential exploitation in the regulation of food intake. Curr Obes Rep. 2016 Mar;5(1):106- 12. 3. Myers MG Jr, Leibel RL et al. Obesity and leptin resistance: distinguishing cause from effect. Trends Endocrinol Metab. 2010 Nov;21(11):643-51. 4. Abeso. Mecanismo genético poderia levar à baixa produção de leptina. Disponível em https://abeso.org.br/mecanismo-genetico-poderia-levar-a-baixa-producao-de-leptina/. Acesso em maio de 2023. 5. Mark L. Andermann and Bradford B. Lowell. Toward a Wiring Diagram Understanding of Appetite Control. 2017 August 16;95(4): 757–778. 6. Tack J, Verbeure Wn et al. The gastrointestinal tract in hunger and satiety signalling. United European Gastroenterol J. 2021 Jul;9(6):727-734. 7. Fazzino, TL, Courville AB et al. Ad libitum meal energy intake is positively influenced by energy density, eating rate and hyper-palatable food across four dietary patterns. Nat Food. 2023 Jan 30;4:144–147. 8. Hall KD, Ayuketah A et al. Ultra-processed diets cause excess calorie intake and weight gain: an inpatient randomized controlled trial of ad libitum food intake. Cell Metab. 2019 Jul 2;30(1):67-77.e3. 9. Universidade Federal de Goiás (UFG). Regulação do apetite. Disponível em https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/93/o/Folder_regula%C3%A7%C3%A3o_do_apetite.pdf?1554382577. Acesso em maio de 2023. 10. Apolinário RMC, Moares RB et al. Mastigação e dietas alimentares para redução de peso. Rev CEFAC. 2008 Apr-Jun;10 (2):191-199. 11. Crochiere RJ, Kerrigan SG et al. Is physical activity a risk or protective factor for subsequent dietary lapses among behavioral weight loss participants? Health Psychol. 2020 Mar;39(3):240-244. 12. Vatansever-Ozen S, Tiryaki-Sonmez G et al. The effects of exercise on food intake and hunger: relationship with acylated ghrelin and leptin. J Sports Sci Med. 2011 Jun 1;10(2):283-91. 13. Alajmi N, Deighton K et al. Appetite and energy intake responses to acute energy deficits in females versus males. Med Sci Sports Exerc. 2016 Mar;48(3):412-20. 14. Kline CE, Chasens ER at al. The association between sleep health and weight change during a 12-month behavioral weight loss intervention. Int J Obes (Lond). 2021 Mar;45(3):639-649. 15. Lazarevich I, Camacho MEI et al. Relationship among obesity, depression, and emotional eating in young adults. Appetite. 2016 Dec 1;107:639-644.

BR23OB00058 – Junho/2023

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