Go to the page content

Precisamos falar sobre obesidade

Um em cada quatro brasileiros tem obesidade e mais da metade da população do país está com sobrepeso. Traduzindo em números, são mais de 130 milhões de pessoas com excesso de peso. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2020, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde¹.

Publicado em: 24 de fevereiro

4 min. read
file

 

Um em cada quatro brasileiros tem obesidade e mais da metade da população do país está com sobrepeso. Traduzindo em números, são mais de 130 milhões de pessoas com excesso de peso. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2020, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde¹.

A obesidade é uma das doenças que mais crescem no Brasil e no mundo. Entre a população adulta, sua incidência mais do que dobrou em 17 anos1. E as projeções para os próximos 12 anos também não são animadoras, considerando a estimativa de que 41% dos brasileiros vão apresentar essa condição, segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2023, publicado pela Federação Mundial de Obesidade (WOF)².

 

file

 

Por que os índices de obesidade crescem tanto?

Antes de tudo, é importante deixar claro que a obesidade não é uma escolha – tanto que apenas um terço das pessoas consegue perder 5% ou mais de seu peso corporal apenas melhorando a alimentação e se exercitando³. Trata-se de uma doença crônica multifatorial, ou seja, que está associada a inúmeras causas, como estilo de vida, genética e fatores sociais e ambientais⁴.

Sedentarismo, consumo excessivo de calorias e alimentos ultraprocessados, estresse, sono insuficiente, substâncias presentes no ambiente, que impactam funções hormonais, uso de certos medicamentos, ambiente obesogênico - que é um facilitador de escolhas alimentares não saudáveis - e status socioeconômico. Tudo isso influencia no ganho de peso⁴.

São muitos os fatores associados à obesidade. Entender que ela não é resultado apenas de más escolhas de alimentação e sedentarismo e que não está associada unicamente a comportamentos individuais⁵ faz toda a diferença para o tratamento.

É possível perder o excesso de peso por meio de um tratamento individualizado, metas realistas e acompanhamento multidisciplinar, que pode envolver médico, nutricionista, educador físico, fisioterapeuta e psicólogo⁶.

Doenças associadas

Foi-se o tempo em que a preocupação com o excesso de peso girava em torno do desejo de alcançar padrões estéticos. Hoje, já se sabe que a obesidade é uma doença que está associada a uma série de outras doenças, sendo considerada uma epidemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) devido à quantidade de pessoas afetadas e o seu ritmo anual de crescimento⁷.

O excesso de gordura corporal pode aumentar o risco de problemas como os cardiovasculares, a hipertensão, o diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer, como o de cólon, de reto e o de mama. Sem contar que, mais recentemente, as evidências apontaram que a obesidade é um importante fator de risco para a forma grave e letal da Covid-19⁸.

Outras condições também estão associadas à obesidade, como insuficiência renal crônica, osteoartrose, câncer, apneia do sono, asma brônquica, doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), doença do refluxo gastroesofágico, infertilidade e doenças psiquiátricas, como depressão e ansiedade⁹.

Pequenas perdas de peso, muitos benefícios

É comum acreditar que é necessário chegar no peso ideal para, só então, ter uma melhora efetiva na saúde. A boa notícia é que todas as conquistas obtidas durante a jornada de perda de peso são, em si, muito valiosas e recompensadoras.

Perder 2,5% do peso já é suficiente para ter alguns benefícios, como a redução dos níveis de glicemia, triglicérides e melhoria da fertilidade¹⁰. Uma redução de 5% do peso corporal diminui a chance de desenvolver diabetes tipo 2 em 50%. Ao perder 10% do peso, uma pessoa reduz esse risco em 80%³.

Ao perder entre 5% e 10%, a pessoa reduz os níveis de colesterol e as dores articulares, e ganha uma melhora na mobilidade, na função sexual e nos quadros de depressão¹⁰. Os benefícios associados a perdas maiores de 10% do peso corporal se refletem na redução de problemas no fígado e no risco de doenças cardiovasculares, o que aumenta a expectativa de vida e melhora consideravelmente os índices de mortalidade10.

É estímulo mais do que suficiente para procurar ajuda especializada e iniciar essa jornada, não é mesmo?

 

file

 

Obesidade infantil: 1 em cada 10 crianças está acima do peso

Os problemas com excesso de peso, muitas vezes, se iniciam na infância. Segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019), encomendado pelo Ministério da Saúde, uma em cada dez crianças brasileiras de até cinco anos está acima do peso ideal. Os dados mostram que 7% possuem sobrepeso e 3%, obesidade¹¹. E a tendência é que esses números continuem aumentando. De acordo com uma projeção feita pelo Atlas Mundial da Obesidade 2023, o crescimento anual da obesidade infantil no Brasil deve ser de 4,4% até 2035².

As causas da obesidade infantil são múltiplas e envolvem fatores genéticos e comportamentais. Filhos de pais com obesidade possuem 80% de chances de também desenvolverem a doença. O risco cai pela metade quando somente um dos pais possui excesso de peso. Já quando nenhum dos pais possui obesidade, a chance ainda existe, mas é de apenas 10%¹².

Fatores gestacionais, como nutrição inadequada e excesso de peso da mãe, período curto de aleitamento materno e introdução alimentar inadequada também influenciam. O ambiente em que a criança está inserida, seja em casa ou na escola, e hábitos comportamentais da família também podem levar ao excesso de peso na infância¹².

O grande vilão da alimentação de crianças e adolescentes são os ultraprocessados. Segundo o Enani-2019, a prevalência do consumo desses alimentos chegou a 93% entre crianças de 24 a 59 meses e 80,5% entre crianças de 6 a 23 meses. Salgadinhos, refrigerantes, bolachas recheadas precisam dar lugar a uma alimentação saudável e balanceada, que inclua, por exemplo, feijões, cereais, raízes e tubérculos, frutas, legumes, verduras e carnes.

“Alimentos in natura ou minimamente processados devem ser a base da alimentação da criança e de toda a família”, ressalta o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras, elaborado pelo Ministério da Saúde¹³.

 

Referências:
1. 
Pesquisa nacional de saúde: 2019: percepção do estado de saúde, estilos de vida, doenças crônicas e saúde bucal: Brasil e grandes regiões. IBGE 2020. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101764.pdf. Acesso em abril de 2023. 2. Lobstein T, Jackson-Leach R et al. World Obesity Atlas 2023. WOF 2023. Disponível em https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/wof-files/World_Obesity_Atlas_2023_Report.pdf. Acesso em abril de 2023. 3. Aronne LJ, Bramblette S et al. When weight impacts health. N Engl J Med. 2023 Jan 12; 388 (2). 4. Lin X, Li H. Obesity: epidemiology, pathophysiology, and therapeutics. Front Endocrinol. 2021 Sep 6; 12:706978. 5. Martins APB. É preciso tratar a obesidade como um problema de saúde pública. Rev Adm Empres. FGV EAESP. 2018 May-Jun; 337-341. 6. Mendes AA, Ieker ASD et al. Multidisciplinary programs for obesity treatment in Brazil: A systematic review. Rev Nutr Campinas. 2016 Nov-Dec; 29(6):867-884. 7. James WP. WHO recognition of the global obesity epidemic. Int J Obes. 2008 Dec; 32 Suppl 7:S120-6. 8. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS). [homepage na internet]. Promoção da saúde e da alimentação adequada e saudável. Excesso de peso e obesidade. Disponível em https://aps.saude.gov.br/. Acesso em abril de 2023. 9. Melo ME. Doenças desencadeadas ou agravadas pela obesidade. Abeso 2011. Disponível em https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/5521afaf13cb9-1.pdf. Acesso em abril de 2023. 10. Ryan DH, Yockey SR et al. Weight loss and improvement in comorbidity: Differences at 5%, 10%, 15%, and over. Curr Obes Rep. 2017 Jun; 6(2): 187–194. 11. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019). Disponível em https://enani.nutricao.ufrj.br/. Acesso em 13 de abril de 2023 12. Lifshitz F. Obesity in children. J Clin Res Pediatr Endocrinol. 2008 Nov 1; 1(2):53-60. 13. Guia Alimentar para Crianças Brasileiras, Ministério da Saúde. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_crianca_brasileira_versao_resumida.pdf. Acesso em 13 de abril de 2023

BR23OB00039 – Maio/2023

Esse artigo te ajudou?

Você também pode gostar: