Entenda como o tratamento da obesidade protege o coração
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. São mais de mil óbitos por dia, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A obesidade pode ocorrer em todas as fases da vida, desde a infância até a terceira idade. As causas são variadas , mas alguns fatores, à medida que se acumulam com o passar dos anos e interagem entre si, podem aumentar o risco para que a condição se instale e se perpetue. Alguns deles são o ganho de peso rápido na infância, a puberdade precoce e o aumento excessivo de peso na gravidez¹.
Publicado em: 24 de fevereiro
Mudanças hormonais, diminuição do metabolismo, perda de massa muscular, estilo de vida menos ativo com o avançar da idade e o consumo excessivo de alimentos não saudáveis também podem levar ao sobrepeso e à obesidade².
O problema é que os danos ocasionados pela gordura em excesso são cumulativos. Ou seja, quanto maior o tempo exposto aos efeitos da obesidade, pior. Um estudo realizado na Espanha com 2,6 milhões de pessoas, publicado em 2023, demonstrou que a obesidade com início precoce e o maior tempo de exposição a ela durante a vida estão associados a um maior risco de apresentar 18 tipos de câncer³.
Por isso, independente da fase da vida em que você se encontra, é importante procurar o quanto antes o tratamento adequado – que pode incluir mudanças de hábitos (como reeducação alimentar e exercícios físicos regulares), uso de medicamentos e, em alguns casos, a cirurgia bariátrica.
Saiba mais sobre os efeitos do sobrepeso e da obesidade em cada etapa da vida.
Obesidade na Infância
As causas da obesidade infantil são múltiplas e envolvem fatores genéticos e comportamentais. Filhos de pais com obesidade possuem 80% de probabilidade de também desenvolverem a doença. O risco cai pela metade quando somente um dos pais possui excesso de peso. Já quando nenhum dos pais possui obesidade, a chance ainda existe, mas é de apenas 10%⁴.
Os riscos para o excesso de peso começam no período pré-natal. Obesidade materna, ganho excessivo de peso gestacional e tabagismo são fatores que podem influenciar o peso do bebê. O mesmo vale para um período curto de aleitamento materno e introdução alimentar inadequada. O ambiente em que a criança está inserida, seja em casa ou na escola, e hábitos comportamentais da família também podem levar ao excesso de peso na infância. Entre esses hábitos, estão a má alimentação e o sedentarismo⁴-⁵.
Crianças que convivem com a obesidade estão expostas ao risco de desenvolver o que, antigamente, eram consideradas “doenças de adulto”, como diabetes tipo 2, distúrbios respiratórios (como apneia do sono, que é a interrupção da respiração durante o sono), doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica, hipertensão arterial (pressão alta), doenças cardíacas e problemas nos ossos e nas articulações. Além disso, crianças com excesso de peso frequentemente apresentam baixa autoestima, o que pode afetar o desempenho escolar e as relações interpessoais⁶-⁷-⁸.
O ganho de peso rápido e precoce na infância tende a aumentar o risco de sobrepeso e obesidade na fase adulta. Entretanto, o baixo peso de uma criança não é um fator que a protege de ter obesidade quando ela crescer⁹.
Segundo uma pesquisa publicada em 2019 no International Journal of Obesity, 6% das crianças com peso adequado, 29% das crianças com sobrepeso, 56% das crianças com obesidade e 80% das crianças com obesidade grave se tornaram adultos com obesidade grau II ou III¹⁰.
Obesidade na Adolescência
A adolescência é um período em que acontecem muitas mudanças físicas e psicológicas. O corpo passa pelos efeitos hormonais da puberdade e sofre uma série de alterações, que também podem incluir o excesso de peso¹¹.
Assim como em outras fases da vida, o sobrepeso e a obesidade na adolescência também estão relacionados a causas variadas, como fatores genéticos e ambientais. Hábitos não saudáveis, como sedentarismo e consumo excessivo de fast food e alimentos ultraprocessados, também contribuem para o aumento de peso¹².
Adolescentes com a condição podem desenvolver precocemente hipertensão arterial, diabetes tipo 2, dislipidemias (presença de níveis elevados de gordura no sangue), comprometimento da postura e alterações no aparelho locomotor, além de distúrbios psicológicos e transtornos alimentares, como depressão, ansiedade, bulimia e anorexia nervosa¹³-¹⁴.
A probabilidade de adolescentes que têm obesidade por volta dos 18 anos desenvolverem a condição na vida adulta é de 34% para os homens e 37% para as mulheres. Por isso, é importante procurar ajuda médica e iniciar o tratamento o quanto antes. A adolescência costuma ser uma fase favorável para a consolidação de hábitos, que poderão trazer consequências diretas para a saúde na vida adulta¹⁴.
Obesidade na fase adulta em mulheres:
As mulheres são ligeiramente mais propensas a ter obesidade do que os homens, em uma proporção de 40% para 35%. Além dos problemas comuns a todos, independentemente do gênero – como diabetes tipo 2, dislipidemias, apneia do sono e doenças cardiovasculares –, a obesidade pode trazer diversas consequências negativas para a saúde feminina, especificamente¹⁵-¹⁶.
O excesso de peso na mulher está associado a alterações no ciclo reprodutivo, como redução da fertilidade, predisposição à síndrome dos ovários policísticos (SOP) e irregularidades ou ausência de ovulação. Além disso, a tendência a distúrbios menstruais e ovarianos associados à obesidade aumenta o risco para todos os cânceres ginecológicos, como de ovário, mama e endométrio¹⁵-¹⁶.
Gravidez
A obesidade materna durante a gravidez pode trazer consequências a curto e a longo prazo, tanto para a mãe, quanto para o bebê. Entre elas, estão: maior risco de aborto espontâneo, diabetes gestacional (geralmente diagnosticada após 20 semanas de gestação, favorece o aumento dos níveis de glicose no sangue, afetando o desenvolvimento do feto), hipertensão gestacional (pressão alta que começa na segunda metade da gravidez), pré-eclâmpsia (combinação de pressão alta com excesso de proteína na urina) e apneia do sono¹⁵-¹⁶.
O excesso de peso da mãe também confere um risco elevado de anomalias congênitas, como doenças cardíacas e defeitos do tubo neural (estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal). Além disso, aumenta-se o risco de um bebê maior que a idade gestacional, o que pode causar problemas durante o parto e afetar a saúde futura da criança¹⁵-¹⁶.
Menopausa
Normalmente, as mulheres costumam apresentar a obesidade periférica, que é quando a gordura se acumula nos quadris e nas coxas. No entanto, durante a menopausa, período que marca o fim dos ciclos menstruais e da fase reprodutiva, ocorre uma redução na produção de estrogênio, o hormônio sexual feminino¹⁷-¹⁸.
A queda rápida nos níveis de estrogênio contribui para o acúmulo de gordura na região central do corpo, a gordura visceral. Esse tipo de gordura é mais inflamatória e causa mais problemas à saúde, uma vez que se deposita em torno de órgãos internos, como, por exemplo, no fígado e no intestino¹⁷-¹⁸.
Muitos problemas surgem neste momento, como resistência à insulina e distúrbios do metabolismo da glicose (açúcar) e lipídios (gorduras). Em consequência, aumenta-se o risco do desenvolvimento de diabetes tipo 2, osteoporose, doenças cardiovasculares e câncer¹⁷-¹⁸.
Obesidade na fase adulta em homens:
Enquanto é comum entre as mulheres acumular gordura na região da cintura durante a menopausa, isso tende a acontecer com os homens em qualquer fase da vida. Com isso, eles também estão expostos aos riscos de doenças cardiovasculares e metabólicas¹⁹-²⁰.
A obesidade em homens também pode provocar disfunções sexuais (como dificuldade de ereção, ausência de orgasmo e alterações da ejaculação) porque reduz a produção da testosterona, o principal hormônio masculino. Além disso, é um fator de risco para infertilidade e câncer de próstata¹⁹-²⁰.
Obesidade na terceira idade
À medida que uma pessoa envelhece, ela normalmente torna-se menos ativa e suas capacidades físicas diminuem. Há uma redução natural na estatura, na taxa metabólica basal (quantidade mínima de energia que o corpo precisa para manter suas funções em repouso) e nas necessidades energéticas²-²¹-²²-²³.
É comum haver uma perda progressiva da massa muscular e um aumento na gordura corporal, geralmente redistribuída para a região da cintura. Quando isso acontece, ocorre a sarcopenia ou obesidade sarcopênica. A condição está associada, entre outros fatores, ao sedentarismo e à diminuição da síntese de proteína²¹-²²-²³.
Como consequência, a pessoa perde força muscular, coordenação dos movimentos e fica mais propensa a acidentes, como quedas. Além disso, se não for tratada, a sarcopenia pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares (como hipertensão), diabetes tipo 2 e osteoartrite (desgaste da cartilagem que reveste as articulações) ²¹-²²-²³.
Saiba mais:
Entenda as causas da Obesidade
Para cada perfil um tratamento personalizado
Referências:
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BR23OB00149 – outubro/2023