Obesidade é fator de risco para problemas de circulação
A obesidade é uma doença associada a mais de 200 complicações, como problemas cardiovasculares, diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral (AVC).
A obesidade é uma doença crônica que afeta todo o metabolismo e é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. Trata-se de uma condição multifatorial, ou seja, é uma combinação entre fatores genéticos, hormonais, sociais, psicológicos e ambientais¹.
Publicado em: 24 de fevereiro
A obesidade é uma doença crônica que afeta todo o metabolismo e é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. Trata-se de uma condição multifatorial, ou seja, é uma combinação entre fatores genéticos, hormonais, sociais, psicológicos e ambientais¹.
Enquanto os fatores genéticos são mecanismos internos que ajudam uma pessoa a ganhar peso e a permanecer nesta condição, os fatores ambientais são as forças externas que contribuem para esse problema. Saiba mais sobre eles:
Herança genética
Como explicar o fato de uma pessoa comer o que e o quanto quiser e não engordar, enquanto outra não pode descuidar da alimentação porque ganha peso facilmente? A genética pode ajudar nessa questão. Estima-se que o balanço energético, que é a diferença entre a energia ingerida e a energia gasta, dependa cerca de 40% da herança genética².
Além disso, o risco de filhos de pais com obesidade também desenvolverem a doença é de 80%. Esse índice cai pela metade quando somente um dos pais possui excesso de peso. Já quando nenhum dos pais possui obesidade, a probabilidade ainda existe, mas é de apenas 10%³.
Estudos recentes do genoma humano apontam que há cerca de 250 genes associados à obesidade. Eles podem alterar o gasto energético do organismo, o apetite ou a forma como o organismo processa os nutrientes. O mais importante deles é o FTO, chamado de “gene da obesidade”. Ele está envolvido nos processos relacionados à compulsão alimentar e à sensação de fome ou saciedade. Alterações nesse gene, que são bastante comuns entre a população, favorecem um maior acúmulo de gordura corporal⁴-⁵.
A predisposição genética é um fator importante, pois significa uma tendência maior de acumular excesso de gordura. Porém, nem todo mundo que a possui fica acima do peso, já que fatores ambientais também exercem uma grande influência. A boa notícia é que manter um estilo de vida saudável ajuda a neutralizar os efeitos genéticos.
Influência do ambiente
São muitos os fatores externos relacionados à obesidade. Antes mesmo de uma pessoa nascer e desde muito pequena, ela já pode estar exposta aos riscos relacionados ao desenvolvimento da doença.
Fatores gestacionais, como excesso de peso da mãe, mulheres que fumam durante a gravidez ou que possuem diabetes, podem alterar o metabolismo do bebê antes do nascimento, favorecendo a predisposição ao ganho de peso³.
Também podem levar à obesidade na infância um período curto de aleitamento materno (inferior a três meses), introdução alimentar inadequada, hábitos comportamentais da família e o ambiente em que a criança está inserida, seja em casa ou na escola. Esses hábitos geralmente permanecem com as pessoas pelo resto de suas vidas³.
As características da vida moderna também favorecem o ganho de peso. O chamado “ambiente obesogênico” oferece oportunidades e condições de vida que promovem a obesidade, ou seja, ele dificulta as escolhas saudáveis e favorece o sedentarismo e hábitos alimentares inadequados⁶.
Exemplos disso são acesso fácil a comidas ultraprocessadas e hipercalóricas, mais baratas e práticas, inexistência de lugares próximos e adequados para a prática de atividade física e maus hábitos durante as refeições, como comer assistindo televisão.
Conheça outros fatores que influenciam o excesso de peso:
Fatores emocionais – Estudos comprovam que transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade, estão relacionados à obesidade, podendo ser tanto causa quanto consequência da doença. A comida acaba sendo usada como um mecanismo de compensação para o alívio de sentimentos negativos, o que pode gerar vícios e compulsão alimentar⁷.
Alterações hormonais – tireoide é uma glândula responsável pela produção de hormônios que regulam diversas funções do metabolismo. Alterações em sua função, como o hipotireoidismo (em que ocorre a diminuição desses hormônios), podem contribuir para a obesidade. Desequilíbrios na produção de outros hormônios, como testosterona, insulina, cortisol, leptina e grelina, também influenciam no excesso de peso⁸-⁹.
Sono e estresse – Quanto menos uma pessoa dorme, maior a probabilidade de ela ganhar peso, pois a falta de sono afeta o cortisol. Esse hormônio está diretamente ligado ao estresse e interfere nos níveis de açúcar no sangue. Por isso, quando está em desequilíbrio, pode haver um aumento no cansaço e no desejo por açúcar. Dormir pouco tende, ainda, a desregular os níveis de grelina e leptina, que são hormônios que controlam a fome e a saciedade. Uma noite de sono insuficiente pode levar a pessoa a comer mais, principalmente se ela estiver cansada ou estressada¹⁰.
Medicamentos – O ganho de peso pode ser efeito colateral de determinados medicamentos, como os antidepressivos, os utilizados no tratamento do diabetes e os corticoides (indicados para alergia, doenças autoimunes, entre outros). Como nem sempre é possível substitui-los, é importante conversar com o médico e manter um acompanhamento constante e rigoroso do tratamento¹¹.
Flora intestinal – O intestino é composto por cerca de 100 trilhões de bactérias que auxiliam no metabolismo, contribuindo para converter o alimento em nutrientes e energia. A flora intestinal tem grande impacto na saúde, pois interfere no sistema imunológico e no risco de desenvolver doenças crônicas e graves, desde diabetes a neoplasias gastrointestinais¹². Segundo pesquisas, um desequilíbrio na flora intestinal pode causar distúrbios metabólicos e aumentar o apetite, sendo um fator de risco para a obesidade¹³.
Como tratar a obesidade?
A ciência ainda não criou uma forma de trocar os genes que predispõem o organismo a doenças, como a obesidade. Já que é impossível controlar a sua origem genética, o que pode ser feito é focar nos fatores externos.
Por ser uma doença crônica, a obesidade precisa ser controlada pela vida toda. O tratamento é de longo prazo e inclui mudanças de hábitos, como alimentar-se de forma balanceada e praticar atividade física com frequência. Pode ainda envolver o uso de medicamentos e, até mesmo, a cirurgia bariátrica.
A jornada da perda de peso torna-se mais bem sucedida quando é acompanhada por uma equipe multidisciplinar de profissionais qualificados, que irão avaliar o estado de saúde como um todo e indicar o melhor tratamento.
Saiba mais:
Referências:
1. Lin X, Li H. Obesity: epidemiology,
pathophysiology, and therapeutics. Front Endocrinol. 2021 Sep 6;
12:706978. 2. Lopes IM, Marti A et al. Aspectos genéticos da
obesidade. Rev Nutr. 2004 Sep; 17(3):327-338. 3. Lifshitz F.
Obesity in children. J Clin Res Pediatr Endocrinol.
2008;1(2):53-60. 4. Tirthani E, Said MS et al. Genetics and
Obesity. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Feb
1. 5. Zhao X, Yang Y et al. FTO and obesity: mechanisms of
association. Curr Diab Rep. 2014;14(5):486. 6. Swinburn B,
Egger G, et al. Dissecting obesogenic environments: the development
and application of a framework for identifying and prioritizing
environmental interventions for obesity. Prev Med 1999 Dec;29(6 Pt
1):563-70. 7. Lazarevich I, Camacho MEI et al. Relationship
among obesity, depression, and emotional eating in young adults.
Appetite. 2016 Dec 1;107:639-644. 8. Kopelman PG. Hormones and
obesity. Baillieres Clin Endocrinol Metab. 1994
Jul;8(3):549-75. 9. Pearce EN. Thyroid hormone and obesity.
Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2012
Oct;19(5):408-13. 10. Kline CE, Chasens ER at al. The
association between sleep health and weight change during a 12-month
behavioral weight loss intervention. Int J Obes (Lond). 2021
Mar;45(3):639-649. 11. Verhaegen AA, Van Gaal LF et al. Drugs
That Affect Body Weight, Body Fat Distribution, and Metabolism. South
Dartmouth (MA): MDText.com, 2019 Feb 11. 12. Andrade VLA,
Regazzoni LAA et al. Obesidade e microbiota intestinal. Rev Med MG.
2014 Aug 13;25(4). 13. Liu BN, Liu XT, et al. Gut microbiota in
obesity. World J Gastroenterol. 2021 Jul 7;27(25):3837-3850.
BR23OB00057 – Junho/2023