Go to the page content

Como conversar com os filhos sobre perda de peso?

Nas últimas quatro décadas, a prevalência de obesidade infantil teve um aumento de 10 vezes em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Publicado em: 24 de fevereiro

4 min. read
file

 

Nas últimas quatro décadas, a prevalência de obesidade infantil teve um aumento de 10 vezes em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cada vez mais, esse é um problema que vem assustando pais de crianças e adolescentes, uma vez que pode levar a uma série de complicações para a saúde em curto e longo prazo: Conversar com os pequenos sobre perda de peso pode ser um assunto difícil, mas os pais podem ter um papel fundamental no combate à obesidade infantil.

Por que conversar com crianças e adolescentes sobre perda de peso?

Se a criança ou adolescente está acima do peso, é provável que já esteja ciente disso. O estudo ACTION teens, realizado com mais de cinco mil adolescentes com obesidade de diversos países, apontou que a maioria deles está preocupada com a própria saúde e deseja perder peso, mas um terço dos jovens se sente incapaz de falar com seus pais sobre isso.

Outro dado que chama atenção é que dois terços dos adolescentes sentem que é somente deles a responsabilidade de lidar com o excesso de peso, o que não é verdade. O acompanhamento profissional e o envolvimento da família são essenciais para a gestão da obesidade.

Por isso, é importante que os pais tenham uma conversa honesta e sensível com os filhos sobre a perda de peso, e é melhor ter essa conversa desde cedo. A obesidade infantil e na adolescência pode levar a uma série de complicações para a saúde física e mental, tais como:

   Diabetes tipo 2;

   Resistência à insulina;

   Hipertensão;

   Aumento do colesterol;

   Doenças cardiovasculares;

   Doença renal crônica;

   Problemas respiratórios, como asma e apneia do sono;

   Problemas nos ossos e articulações;

   Depressão, ansiedade e baixa autoestima.

Quando não diagnosticada e cuidada, a obesidade que se apresenta já na infância e na adolescência tem uma grande probabilidade de persistir na idade adulta:

  • crianças com obesidade aos dois anos possuem 75% de chance de terem obesidade aos 35 anos;
  • já adolescentes que chegam aos 19 anos com a condição têm 89% de chance.


Além disso, a obesidade que se inicia na fase infantojuvenil tem um impacto mais grave ao longo da vida do que a obesidade que se inicia mais tarde.

A conversa com os filhos sobre perda de peso deve ser sem julgamentos

O ponto principal da conversa com as crianças e adolescentes sobre perda de peso deve ser sempre a saúde. Em vez de discutir números, como peso e tamanhos, é importante falar sobre os benefícios para a saúde de estar com o peso adequado para a idade, de ser fisicamente ativo e de como a perda de peso pode melhorar o bem-estar geral.

Tenha em mente que as crianças e adolescentes com excesso de peso já são estigmatizadas pela mídia e pelos colegas, ou até mesmo sofrem bullying na escola. Por isso, é importante que o jovem com obesidade saiba que os pais estão ao seu lado e sempre disponíveis para ouvir suas preocupações, sem julgamento.

Além disso, é essencial evitar usar linguagem estigmatizante ou fazer comentários negativos sobre o corpo das pessoas, inclusive de terceiros. Isso pode prejudicar a autoimagem do filho e deixá-lo desconfortável em prosseguir com a conversa. Estimular a autoestima e elogiar as qualidades em outras áreas que não estejam relacionadas à parte estética também é uma importante abordagem. Veja outras dicas para abordar a perda de peso com o filho:

   Faça perguntas abertas ao filho, convidando-o a expressar seus sentimentos. Por exemplo: “como você está se sentindo?” ou “como vão as coisas na escola?”;

   Agradeça ao jovem por confiar nos pais, expressando seus sentimentos para construir uma sensação de segurança;

   Reconheça que uma alimentação saudável e a manutenção de um peso ideal para a idade podem ser desafiadores, mas enfatizar os benefícios de uma saúde melhor. Por exemplo, destacar as vantagens de se estar saudável para ter um rendimento melhor nas atividades que gosta e prevenir futuros problemas graves de saúde;

   Seja mais positivo e solidário com os jovens.

A conversa com jovens com obesidade deve abordar a vida online

Em um mundo em que as interações digitais estão constantemente presentes, é importante estar ciente das ameaças à saúde mental e ao bem-estar dos jovens em relação aos problemas de confiança e imagem corporal. Também é importante ressaltar como o comportamento online pode afetar o bem-estar e até provocar hábitos sedentários. Alguns pontos importantes para abordar com crianças e adolescentes:

  • Distorção da percepção da realidade – alertar que celebridades e influenciadores digitais possuem um estilo de vida que não corresponde à realidade da maioria das pessoas, além de, muitas vezes, terem passado por diversos procedimentos estéticos e cirurgias plásticas para atingirem determinada aparência. Por isso, não devem ser tomados como modelo do que é considerado ideal e natural.
  • Incentivo ao consumo de conteúdos diversos – mostre exemplos de personalidades de diversos tipos de corpos, etnias e gêneros, que produzam conteúdos sobre temas variados, não apenas a exposição estética. Assim, a criança ou adolescente desenvolve a percepção de que cada indivíduo é único, tem suas próprias habilidades e características positivas.
  • Alerta sobre excesso de tempo diante das telas – além de prejudicar outras áreas da vida da criança e adolescente, como o desempenho escolar, o excesso de tempo online contribui para hábitos sedentários. Incentive a prática de brincadeiras que gastem energia, atividades físicas e culturais, que envolvam movimento e passeios com amigos. Se necessário intervir, faça combinados que limitem o tempo online.

Pais devem incentivar e dar bons exemplos de hábitos saudáveis para a perda de peso dos filhos

Os pais podem ter muitas atitudes para ajudar os filhos no desafio de perder peso:

Refeições conjuntas - sempre que possível, é importante preparar e fazer as refeições em família, pois este é um ótimo momento para incentivar escolhas alimentares saudáveis. Comer junto também traz benefícios emocionais, ao oferecer tempo de qualidade para conversar.

    Definir horários e rotinas para refeições e lanches também é importante para regrar a alimentação e evitar que as crianças e adolescentes “belisquem“ ao longo do dia.

    O exemplo da alimentação saudável deve partir dos pais. Não basta apenas incentivar que os filhos comem alimentos saudáveis, é preciso que eles reconheçam o mesmo hábito nos pais, para que aprendam desde cedo.

Escolhas alimentares saudáveis – os pais devem incentivar os filhos com excesso de peso a priorizar alimentos saudáveis, com menos ênfase em alimentos ricos em gordura e açúcar. Não se trata de introduzir alimentos dietéticos, que são geralmente ultraprocessados. Incentive seu filho a comer:

    Frutas e vegetais frescos;

    Alimentos integrais;

    Saladas coloridas;

    Laticínios com baixo teor de gordura ou sem gordura, como leite, iogurte e queijo;

    Carnes magras, como frango e peixe;

    Outras proteínas, como feijões e lentilhas‌.

Hidratação como aliada para perda de peso - o elevado índice de açúcar contido em sucos de frutas artificiais e refrigerantes pode levar ao aumento de peso. É importante trocá-los pelo consumo de água. Incentivar o jovem a beber bastante água durante o dia ajuda na hidratação, na digestão e na saúde geral.

Atividades físicas - incentivar atividades físicas, de preferência ao ar livre, é outra medida essencial para auxiliar no controle da obesidade infantojuvenil. A partir dos três anos de idade, as crianças e adolescentes devem ser ativas por, pelo menos, uma hora por dia. Isso pode ser dividido em curtos períodos de 15 a 20 minutos.

    Para crianças mais novas, jogos como pega-pega ou jogos de bola são boas opções.

    Já crianças mais velhas ou adolescentes podem optar pela prática de esportes coletivos. Sempre que possível, vale a pena a família escolher caminhar ou andar de bicicleta em vez de ir de carro.

    As famílias também podem fazer atividade física juntas de outras inúmeras formas, como caminhar em um parque, passear com o cachorro, praticar uma dança, entre outras atividades saudáveis.

    Ajude a criança ou adolescente a encontrar uma atividade que ela goste, para que seja mais fácil manter a constância, além de agradável. Existem várias opções para quem não gosta das mais tradicionais, como esportes coletivos. Alguns exemplos: ginástica artística, danças, artes marciais e lutas, atividades circenses, entre outras.

Foco no bem-estar, não na perda de peso

Uma das dicas mais valiosas para encarar a obesidade infantojuvenil é evitar fazer do peso o único foco neste processo, prestando mais atenção aos benefícios familiares de uma alimentação saudável e a prática de atividade física. Estes são os ingredientes necessários para apoiar o crescimento e desenvolvimento dos jovens, bem como aumentar sua imunidade e bem-estar emocional. Fazer as mudanças certas em família ajudará a evitar que o filho busque dietas milagrosas ou desenvolva problemas alimentares mais tarde na vida. E lembre-se sempre:

    Não rotule ou faça comentários negativos sobre o corpo das pessoas, incluindo o seu;

    Dietas da moda não são o caminho para a perda de peso;

    O exemplo vem de cima! Os pais devem buscar fazer mudanças que facilitarão as escolhas saudáveis de alimentação e atividades para os filhos.

    Se o seu filho tem excesso de peso, busque a orientação de um profissional de saúde.

É papel dos pais e responsáveis sempre estabelecer um canal aberto para conversar com os filhos sobre saúde mental, percepção acerca da imagem corporal e como é possível ter hábitos saudáveis de vida.

Referências:
1. 
NCD Risk Factor Collaboration (NCD-RisC). Worldwide trends in body-mass index, underweight, overweight, and obesity from 1975 to 2016: a pooled analysis of 2416 population-based measurement studies in 128·9 million children, adolescents, and adults. Disponível em: https://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736(17)32129-3.pdf. Acesso em 17/11/2022. 2. Halford JCG, Baur L, Bereket A et al. Global survey study of awareness, care and treatment of adolescents living with obesity, their caregivers and healthcare professionals: ACTION Teens. European Society for Paediatric Endocrinology. Disponível em: https://doi.org/10.1111/ijpo.12957. Acesso em 17/11/2022. 3. United Nations International Children's Emergency Fund – UNICEF. How to support your child if you are concerned about their weight. Disponível em: https://www.unicef.org/parenting/food-nutrition/how-support-your-child-if-you-are-concerned-about-their-weight. Acesso em 17/11/2022. 4. Sydney Children’s Hospitals Network. Obesity - How to talk to your child about their weight: a guide for parents and carers. Disponível em: https://www.schn.health.nsw.gov.au/fact-sheets/how-to-talk-to-kids-about-weight. Acesso em 17/11/2022. 5. Ministério da Saúde. Instrutivo para o cuidado da criança e do adolescente com sobrepeso e obesidade no âmbito da Atenção Primária à Saúde. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/instrutivo_crianca_adolescente.pdf. Acesso em: 17/11/2022. 6. UNICEF Brasil. Agenda de prevenção da obesidade na infância e adolescência. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/apresentacoes/agenda_prevencao_obesidade_infancia_UNICEF.pdf. Acesso em 15/12/2022.

BR22OB00186 – Fev./2023

Esse artigo te ajudou?

Você também pode gostar: