Entenda como o tratamento da obesidade protege o coração
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. São mais de mil óbitos por dia, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Você já ouviu falar em síndrome metabólica? Tratam-se de alterações do metabolismo, associadas ao acúmulo de gordura excessiva, que podem levar a problemas graves de saúde, como diabetes tipo 2, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Quem possui síndrome metabólica apresenta um risco duas vezes maior de mortalidade em geral e três vezes maior de óbito por doença cardiovascular, especificamente¹-². Ela é considerada um problema de saúde pública devido a sua alta prevalência e seus impactos negativos na saúde e na qualidade de vida das pessoas afetadas¹².
Publicado em: 24 de fevereiro
A síndrome não é uma condição específica, mas um conjunto de fatores de risco, ou seja, características que colocam o organismo em perigo, aumentando a probabilidade de desenvolver certas doenças. Eles incluem hipertensão arterial (pressão alta), aumento dos níveis de gordura (colesterol e triglicérides) e açúcar (glicose) no sangue, além de obesidade – principalmente a abdominal, aquela gordura que fica mais concentrada na região da cintura e que se deposita em torno de órgãos internos, como fígado e intestino¹-².
Os homens, que tendem a acumular gordura abdominal, estão mais propensos a desenvolver a síndrome. Aliás, segundo um estudo realizado por pesquisadores de universidades da Finlândia e do Reino Unido, publicado em 2023, o risco é cinco vezes maior em homens do que em mulheres³.
No entanto, elas também podem desenvolver a condição, principalmente se tiverem síndrome do ovário policístico (SOP). A síndrome metabólica ocorre em aproximadamente 43% das mulheres com SOP, o que aumenta em até sete vezes o risco de doenças cardiovasculares nessas pacientes⁴.
Resistência à insulina é a base da síndrome
A base da síndrome metabólica é a resistência à insulina, uma condição frequente em quem tem obesidade. A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, que é responsável pelo aproveitamento da glicose como energia pelo organismo. Ela também possui outras funções importantes, como a participação no metabolismo de gorduras¹-²-⁵.
A resistência à insulina ocorre quando esse hormônio tem dificuldade de exercer suas funções. Como consequência, há um aumento de glicose circulando no sangue. Aí, em uma tentativa de dar conta do açúcar circulante, o pâncreas se obriga a trabalhar ainda mais para produzir insulina²-⁵.
Como a síndrome metabólica é diagnosticada?
Se você tem obesidade, pressão alta e está com o colesterol alto, por exemplo, você pode ter a síndrome metabólica. A condição é diagnosticada quando estão presentes três ou mais dos seguintes fatores de risco¹-²:
- Obesidade abdominal: cintura maior que 102 cm em homens e maior que 88 cm em mulheres;
- Índices altos de triglicérides: igual ou superior a 150 mg/dl;
- Valores baixos de HDL (o colesterol bom): menor que 40 mg/dl em homens e 50 mg/dl em mulheres;
- Hipertensão arterial: igual ou superior a 130/85 mmHg;
- Glicemia elevada: igual ou acima de 110 mg/dl em jejum.
Os fatores de risco para a síndrome são como inimigos ocultos, pois não causam sintomas. Por isso, é essencial manter a rotina de consultas médicas sempre em dia. O diagnóstico é possível por meio de avaliação clínica e exames de sangue6.
Consequências da síndrome metabólica
A síndrome metabólica desencadeia uma cascata de processos inflamatórios no metabolismo. Excesso de gordura, dislipidemia (níveis elevados de gorduras no sangue, como colesterol e triglicérides) e outras condições presentes na síndrome elevam o risco de diabetes tipo 2 e doença cardiovascular por aterosclerose – quando o depósito de gordura nas artérias forma placas que podem obstruir a passagem de sangue e desencadear complicações, como infarto e AVC⁷-¹⁰.
A síndrome também é um fator de risco para câncer, já que as substâncias inflamatórias e a resistência à insulina podem induzir à multiplicação celular desordenada, favorecendo o surgimento de tumores⁸.
Outras doenças que podem se desenvolver a partir da síndrome metabólica são insuficiência renal, esteatohepatite associada à disfunção metabólica (uma doença caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado, inflamação e danos às células), depressão, doenças respiratórias e reumáticas (como artrite reumatoide, osteoartrite e lúpus)⁹
A síndrome metabólica tem tratamento?
A forma mais eficaz de tratamento da síndrome metabólica é a mudança no estilo de vida. Uma alimentação balanceada, rica em alimentos naturais e pobre em ultraprocessados, aliada a uma rotina frequente de exercícios físicos, pode ajudar a equilibrar o metabolismo⁹.
Em algumas situações, pode ser necessário o uso de medicamentos para tratar os fatores de risco associados à síndrome. Entre eles, estão os chamados “sensibilizadores da insulina” (que ajudam a baixar o açúcar no sangue), os medicamentos para pressão alta e os que ajudam a reduzir a gordura no sangue. O tratamento da obesidade deve ser recomendado e, se houver indicação, medicamentos podem ser prescritos pelo médico⁶.
Tanto o tratamento da síndrome metabólica, quanto da obesidade, têm mais chances de sucesso quando são acompanhados por uma equipe multidisciplinar de profissionais qualificados, composta por médico, psicólogo e/ou psiquiatra, nutricionista e profissional de educação física, que irão avaliar o seu estado de saúde como um todo e indicar o melhor caminho a ser percorrido.
Saiba mais:
Obesidade é uma doença que afeta o corpo inteiro
Obesidade em homens e mulheres
Referências:
1. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
Síndrome Metabólica (Abeso). Obesidade e Síndrome Metabólica.
Disponível em https://abeso.org.br/conceitos/obesidade-e-sindrome-metabolica/.
Acesso em outubro de 2023. 2. Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (Sbem). Síndrome Metabólica. Disponível
em https://www.endocrino.org.br/sindrome-metabolica/.
Acesso em maio de 2023. 3. Matsiukevich D, Kovacs A et
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preserved ejection fraction. Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2023 Aug
1;325(2):H203-H231. 4. Silva RC, Pardini DP et al.
Síndrome dos Ovários Policísticos, Síndrome Metabólica, Risco
Cardiovascular e o Papel dos Agentes Sensibilizadores da Insulina. Arq
Bras Endocrinol Metab. 2006 Apr;50(2):281-290. 5. Sinaiko A. Obesidade, resistência à insulina e
síndrome metabólica. J Pediatr (Rio J). 2007;83(1):3-5. 6- Ministério
da Saúde. Síndrome metabólica. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/sindrome-metabolica/#:~:text=O%20termo%20S%C3%ADndrome%20Metab%C3%B3lica%20descreve,doen%C3%A7as%20card%C3%ADacas%2C%20derrames%20e%20diabetes.
Acesso em outubro de 2023. 7. Sociedade Brasileira de
Cardiologia (SBC). SBC alerta: controle do colesterol é fundamental
para minimizar riscos de doenças cardiovasculares. Disponível em https://www.portal.cardiol.br/post/sbc-alerta-controle-do-colesterol-%C3%A9-fundamental-para-minimizar-riscos-de-doen%C3%A7as-cardiovasculares.
Acesso em outubro de 2023. 8. Belladelli F, Montorsi F
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2022 Nov 1;32(6):594-597. 9. Barbalho SM, Bechara MD
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indissociável? J Vasc Bras. 2015 Oct-Dec 14(4):319-327. 10. Monteiro R, Azevedo I. Chronic inflammation in
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systematic review. Rev. Nutr. 2016 Nov-Dec; 29(6):867-884. 12. Santos FAA, Back IC et al. Nível de atividade física
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adultos: estudo de base populacional. Rev Bras Epidemiol. 2020; 23:E200070.
BR23OB00219 - novembro/2023