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Desequilíbrio da flora intestinal está associado à obesidade

Imagine um ambiente com 100 trilhões de seres vivos. Muitos diriam que isso é impossível, já que o próprio planeta Terra possui oito bilhões de habitantes. Pois esse ambiente existe e está dentro de você: é a microbiota intestinal humana, popularmente conhecida como flora intestinal¹.

Publicado em: 24 de fevereiro

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Imagine um ambiente com 100 trilhões de seres vivos. Muitos diriam que isso é impossível, já que o próprio planeta Terra possui oito bilhões de habitantes. Pois esse ambiente existe e está dentro de você: é a microbiota intestinal humana, popularmente conhecida como flora intestinal¹.

Os micro-organismos, como vírus, fungos e bactérias, colonizam todo o organismo humano, como a boca, os olhos, a pele, o estômago, o sistema respiratório etc. Mas a maior parte da colonização (cerca de 70%) ocorre no trato gastrointestinal².

A flora intestinal é composta por trilhões de bactérias (estima-se que entre 10 e 100 trilhões) que vivem em um ambiente denominado microbioma. A maioria delas é benéfica e auxilia na digestão, na melhor absorção de nutrientes e na síntese de vitaminas³.

Além disso, essas bactérias “do bem” promovem o fortalecimento da barreira intestinal e são capazes de proteger o organismo contra agentes causadores de doenças (como outros vírus e bactérias), regulando, assim, a imunidade³-⁴.

Flora intestinal e o desenvolvimento da imunidade

O intestino não é apenas um órgão de digestão e absorção – ele também tem um papel importante no sistema imunológico³.

Tudo começa a partir do nascimento. Em partos normais, o bebê é exposto a bactérias do canal vaginal da mãe e, com isso, adquire uma maior variedade de microorganismos responsáveis por auxiliar no desenvolvimento de seu sistema imunológico.

Já os recém-nascidos por cesárea apresentam um microbioma semelhante ao da pele da mãe e do ambiente hospitalar, com menor diversidade, o que pode comprometer as defesas de seu organismo³-⁴.

Cerca de 80% de todas as células imunológicas do corpo humano estão localizadas no trato gastrointestinal, por isso a importância de se ter uma flora equilibrada desde o início da vida⁵-⁶.

Um estudo da Sociedade Americana de Microbiologia, publicado em 2018, mostrou que existe uma forte associação entre a microbiota infantil e o Índice de Massa Corporal (IMC), o que pode ajudar a identificar crianças em risco de obesidade. Segundo os pesquisadores, desequilíbrios na flora intestinal de bebês aos dois anos apontam para uma probabilidade significativa de obesidade aos 12 anos⁷.

Doenças associadas ao desequilíbrio da flora intestinal

Um desequilíbrio da flora intestinal, ou seja, um aumento na proporção de bactérias consideradas nocivas ao intestino em relação ao volume de bactérias do bem, pode acontecer quando você não tem uma alimentação balanceada (com excesso de proteínas, gorduras, alimentos ultraprocessados e pobre em fibras), quando faz uso de certos medicamentos, como antibióticos, e até mesmo se está sob níveis altos de estresse⁸-⁹.

Esse desequilíbrio é chamado de disbiose, o que leva à produção de toxinas e pode causar inflamação e diminuição da capacidade do intestino de absorver nutrientes. A disbiose está associada a uma série de doenças, que vão desde problemas gastrointestinais, como síndrome do intestino irritável, intolerância à lactose e doença celíaca, até condições graves, como obesidade, diabetes tipo 2, Alzheimer e câncer¹⁰-¹¹.

A composição da flora intestinal pode afetar a capacidade do organismo de adquirir nutrientes e regular o uso de energia. As bactérias presentes no intestino atuam no metabolismo e estão envolvidas no armazenamento de gordura, regulação do apetite, ganho de peso e sensibilidade de insulina (hormônio que controla o açúcar no sangue). Dessa forma, a disbiose desempenha um papel importante no desenvolvimento da obesidade e de doenças relacionadas⁸-⁹.

Pesquisas indicam que a perda de peso por meio de dieta com restrição de carboidratos ou gordura, com baixo teor calórico, está relacionada ao aumento da variedade das bactérias intestinais e à redução da inflamação sistêmica crônica⁸.

Quais são os sintomas da disbiose?¹²

  • Náuseas
  • Vômitos
  • Gases
  • Distensão Abdominal
  • Diarréia ou Constipação
  • Azia
  • Dor Estomacal ou Intestinal

Como regular a flora intestinal?³-⁸-¹³

Cuidar da flora intestinal é essencial para garantir saúde e qualidade de vida. Confira algumas dicas para mantê-la em equilíbrio:

Alimente-se de forma balanceada: a alimentação é o fator que mais contribui para alterações na flora intestinal. Uma alimentação saudável, baseada em alimentos in natura e minimamente processados, favorece o crescimento de bactérias benéficas, mantendo a qualidade da flora intestinal.

Faca exercícios físicos com regularidade: o exercício físico também pode regular a composição da microbiota, o que favorece o aumento na quantidade de bactérias que promovem a saúde.

Reduza o uso de açúcar e adoçantes: o açúcar refinado, assim como alguns adoçantes artificiais, podem aumentar o crescimento de bactérias nocivas que alteram o equilíbrio da flora intestinal e impactam a absorção de nutrientes.

Coma mais fibras: por não serem digeridas, as fibras causam saciedade e diminuem a absorção de açúcares e gorduras, além de facilitar o trânsito intestinal e estimular o crescimento de bactérias benéficas. Alguns exemplos de alimentos ricos em fibras são: cereais integrais (como aveia), grãos, frutas, legumes e verduras.

Probióticos, prebióticos ou simbióticos? ³-¹⁴

Os termos são parecidos e podem causar confusão, mas possuem significados diferentes. Entenda o que significa cada um deles:

PROBIÓTICOS: são microrganismos vivos, que oferecem benefícios à saúde intestinal quando consumidos regularmente e em doses adequadas. Os probióticos formam uma espécie de barreira física para as bactérias que causam doenças, além de estimular o sistema imunológico, aliviar a constipação e aumentar a absorção de vitaminas e minerais. As fontes naturais mais comuns são: leites fermentados com lactobacilos vivos, iogurtes, kefir e outros alimentos fermentados, como pães feitos com levain (fermentação natural).

PREBIÓTICOS: são carboidratos ricos em fibras, que não podem ser digeridos e servem de alimento para as bactérias benéficas do intestino, estimulando seu crescimento e auxiliando na manutenção de uma flora intestinal saudavel. Entre as fontes naturais, estão: alho, cebola, banana, tomate, cevada, centeio, soja, grão-de-bico, chicória, aspargos, alcachofra, inhame, biomassa e farinha de banana verde.

SIMBIÓTICOS: produtos que contém probióticos e prebióticos ao mesmo tempo, combinando seus efeitos benéficos ao organismo. Alguns exemplos são: iogurtes, leites fermentados, bebidas lácteas e sucos.

Referências:
1. 
Ursell LK, Metcalf JL et al. Defining the human microbiome. Nutr Rev. 2012 Aug;70 Suppl 1(Suppl 1):S38-44. 2. Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). A microbiota humana. Disponível em https://www.sbd-sp.org.br/geral/a-microbiota-humana/. Acesso em novembro de 2023. 3. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Microbiota intestinal e sua importância para imunidade. Disponível em https://www.unirio.br/covid/arquivos/microbiota-intestinal-e-sua-importancia-para-imunidade. Acesso em novembro de 2023. 4. Coelho GDP, Ayres LFA et al. A microbiota adquirida de acordo com a via de nascimento: uma revisão integrativa. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2021;29:e3446. 5. Durack J, Lynch SV. The gut microbiome: Relationships with disease and opportunities for therapy. J Exp Med. 2019 Jan 7;216(1):20-40. 6. Paixão LA, Castro FFS. A colonização da microbiota intestinal e sua influência na saúde do hospedeiro. Universitas: Ciências da Saúde. 2016;14(1):85-96. 7. Stanislawski MA, Dabelea D. Gut Microbiota in the First 2 Years of Life and the Association with Body Mass Index at Age 12 in a Norwegian Birth Cohort. ASM Journals. 2018;9(5). 8. Geng J, Feng X et al. The links between gut microbiota and obesity and obesity related diseases. Biomed Pharmacother. 2022;147. 9. Andrade VLA, Moura MTRM et al. Obesidade e microbiota intestinal. Rev Med Minas Gerais 2015; 25(4):583-589. 10. Bull MJ, Plummer NT. Part 1: The Human Gut Microbiome in Health and Disease. Integr Med (Encinitas). 2014 Dec;13(6):17-22. 11. Durack J, Lynch SV. The gut microbiome: Relationships with disease and opportunities for therapy. J Exp Med. 2019 Jan 7;216(1):20-40. 12. Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Disbiose. Disponível em https://abran.org.br/new/wp-content/uploads/2019/10/ABRAN_Disbiose_VERSAO1-APCP-Revisão-Glair_REV_VLS.REVi_.pdf. Acesso em novembro de 2023. 13. Satokari R. High Intake of Sugar and the Balance between Pro- and Anti- Inflammatory Gut Bacteria. Nutrients. 2020 May 8;12(5):1348. 14. Flesch AGT, Damin DC et al. O uso terapêutico dos simbióticos. Arq Bras Cir Dig. 2014;27(3):206-209.

BR23OB00263 – Dezembro/2023

 

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